Um novo artigo publicado recentemente na revista História Ambiental, Latinoamericana y Caribeña, a HALAC, apresenta em detalhes a epidemia de gripe de 1957, as ações do governo Juscelino Kubitschek para contê-la e as reações da imprensa da época. O artigo A Gripe Asiática e o “Malogro” de Juscelino Kubitschek: História, Política e uma Epidemia Esquecida tem a autoria de Ramon Feliphe Souza. Doutor em História das Ciências e da Saúde pela Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz), Ramon participou de pesquisas do OHS no projeto Covid Longa.
No artigo, Souza apresenta como se deu o gerenciamento da epidemia de gripe de 1957, no segundo ano de governo de Juscelino Kubitsheck, presidente que buscava promover o desenvolvimento econômico do Brasil via industrialização, e cujo foco, na área da saúde, estava no investimento em tecnologias e medicamentos sem levar em consideração as condições sociais locais. Após uma reunião com ministros, governadores e outras autoridades no mês de agosto, foi instituída uma Comissão Especial de Estudo e Planejamento do Combate a Gripe (CEEPG). Esta centralizaria a ação executiva referente à prevenção e controle da doença.
Outros resultados da reunião incluem a abertura de um crédito de 30 milhões de cruzeiros para o combate a doença; congelamento do preço de medicamentos para o tratamento; e apelo às universidades e à classe médica para cooperar na assistência médica à população. Apesar disso, a doença atingiu centenas de milhares de brasileiros, não apenas pela quantidade insuficiente de vacinas como pela fragilidade das condições de vida da maioria da população.
O artigo mostra, também, o quanto a crise sanitária foi emblemática do “malogro” do Brasil nas relações exteriores, consenso iniciado com o episódio da ida do então ministro da Fazenda, José Maria Alkmin, à Conferência Econômica dos Estados Americanos, organizada pela Organização dos Estados Americanos (OEA), em Buenos Aires. Na ocasião, não apenas o ministro contraiu a doença e foi colocado em quarentena, como fracassaram os movimentos de alinhamento do governo brasileiro aos Estados Unidos, almejados pela gestão Kubitschek.
Deste modo, Souza expõe o contexto histórico, social e político de uma epidemia pouco estudada na História da Saúde, assim como apresenta os detalhes da doença que marcou um governo cujo destaque era o viés desenvolvimentista. Confira o artigo completo no periódico.
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