Após um estudo divulgado em maio de 2023 sobre a contaminação de mercúrio em pescados de seis estados da Amazônia, uma nova pesquisa, conduzida por profissionais da Fiocruz e do Instituto Socioambiental, revelou o cenário de contaminação do povo Yanomami no estado de Roraima. Dessa vez foram obtidas amostras de cabelo de cerca de 300 pessoas.
Altos níveis de contaminação
O novo estudo, realizado com indígenas de nove aldeias de Roraima do subgrupo Ninam, do povo Yanomami, detectou o nível de contaminação por mercúrio de todos os participantes. Os resultados detectaram níveis mais altos de exposição nos indivíduos das aldeias próximas aos garimpos ilegais de ouro.
O estudo “Impacto do mercúrio em áreas protegidas e povos da floresta na Amazônia: uma abordagem integrada saúde-ambiente” foi conduzido por pesquisadores da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz) em parceria com a Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) e o apoio do Instituto Socioambiental (ISA).
Das 287 amostras de cabelo examinadas, 84% registraram níveis de contaminação por mercúrio acima de 2,0 µg/g. Já 10,8% ficaram acima de 6,0 µg/g, índice considerado alto. A Organização Mundial da Saúde (OMS) orienta que os níveis acima de 6 microgramas de mercúrio por grama de cabelo podem desencadear sérias consequências à saúde.
A equipe incluiu a realização de exames clínicos para identificar doenças crônicas não transmissíveis, como transtornos nutricionais, anemia, diabetes e hipertensão. O cruzamento de dados revelou que os níveis de mercúrio acima de 2,0 µg/g são mais frequentes em indígenas com pressão alta do que nos indivíduos com pressão arterial normal. Também foi identificado que mais de 5% das crianças menores de 11 anos estavam anêmicas, e quase metade apresentaram desnutrição aguda. Além disso, 80% apresentaram déficits de estatura para a idade, o que sugere, de acordo com os parâmetros da OMS, um estado de desnutrição crônica.
Contaminação por consumo de pescado
Em entrevista ao OHS Paulo Basta, pesquisador da Ensp, explicou que, das três formas de contaminação por mercúrio (inalatória, dermatológica e digestiva), a que mais expõe a população indígena – e demais consumidores de pescados – é a digestiva, pois o mercúrio presente na água onde se realiza o garimpo acaba por se depositar na pele dos animais.
Além de o garimpo em si ser uma atividade ilegal, o mercúrio é um metal pesado fabricado apenas fora do país, de modo que uma forma de combater o problema no Brasil seria vigiar a importação do metal.
O novo estudo recém-divulgado indica que é preciso cessar este processo e fornecer mais assistência à população exposta, conforme detalhado no Plano para Erradicação da Contaminação por Mercúrio no Brasil apresentado pelos pesquisadores da Fiocruz ao governo federal como Medida Provisória.
Saiba mais sobre a nova pesquisa de contaminação aqui e acesse a entrevista com Paulo Basta aqui.
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