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Conversas Contemporâneas: a história da enfermagem no Brasil e a saúde pública

28/06/2023

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Por Carolina Vaz

Em homenagem ao Dia do Enfermeiro (12/05) e à Semana da Enfermagem, o Conversas Contemporâneas de maio promoveu um bate-papo com os pesquisadores da história da enfermagem Maria Angélica de Almeida, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e coordenadora do Centro de Documentação e Museu da Escola de Enfermagem Anna Nery, e Ricardo dos Santos Batista, historiador, professor da Universidade Federal da Bahia e doutorando da Casa de Oswaldo Cruz.

O Conversas foi realizado no dia 23 de maio na Escola de Enfermagem Anna Nery, no Rio de Janeiro, e conduzido pelo pesquisador do OHS Luiz Alves Neto.

Com o tema “A enfermagem e saúde pública em foco”, o encontro abordou a história da enfermagem no Brasil, nos últimos 100 anos, e sua conexão com saúde pública, com destaque para a Atenção Primária à Saúde. A professora Maria Angélica de Almeida abriu o evento falando sobre as primeiras décadas da Escola Anna Nery, criada em 1923 no âmbito da Reforma Carlos Chagas. Segundo ela, antes da diplomação surgida com a inauguração da Escola, já existiam no país as “visitadoras sanitárias”, posto que guarda semelhanças com o dos atuais Agentes Comunitários de Saúde. De acordo com a pesquisadora, a enfermagem no Brasil, nas primeiras décadas do século XX, agregou mulheres de classes sociais mais baixas e, nos anos 1930 e 1940, pretas e migrantes das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Com o tempo, a escola se tornou um grande centro de formação para o serviço público e para os hospitais.

Uma dessas mulheres, vinda especificamente da cidade de Morro do Chapéu, na Bahia, foi o foco da apresentação de Ricardo Batista, na palestra “Conexões internacionais na constituição da enfermagem moderna brasileira, o caso da Haydée Guanais Dourado de 1932 a 1937”. A enfermeira, formada pela escola Anna Nery, acabou estudando na Escola de Enfermagem de Toronto (Canadá). Posteriormente, na década de 1950, realizou o Levantamento de Recursos e Necessidades de Enfermagem, a partir do qual apontou o quantitativo de enfermeiras em saúde pública no Brasil: apenas 535 para cada 110 mil habitantes. O estudo levou à criação de programas de pós-graduação de enfermeiras em saúde pública no país.

Ricardo Batista e Maria Angélica de Almeida. Foto: Luiz Alves.

No debate, muito se falou sobre a conexão dessas “visitadoras” com a atual Estratégia de Saúde da Família. A professora Maria Angélica de Almeida enfatizou que, embora nos anos 1950 e 1960 o campo da saúde tenha se voltado mais para o modelo biomédico, com os hospitais modernos alimentando os sonhos de atuação das enfermeiras, muitas delas estavam nos postos de saúde. Era nesses espaços, atuando na saúde preventiva, que realizavam rotinas de puericultura e vacinação, entre outras atividades.

No que se refere às especializações, a escola Anna Nery passou por algumas fases: de início, dava às alunas a escolha, no último período da formação, de atuar na saúde pública ou na hospitalar. Com o tempo, passou a oferecer especializações, como médico-cirúrgica, obstétrica, materno-infantil e saúde do trabalhador.

Mais do que registros de memórias distantes, o evento trouxe à tona reflexões importantes acerca da enfermagem hoje e o que se espera das enfermeiras e enfermeiros nos anos que seguem.

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