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Memoriais carregam homenagens a indivíduos e conectam passado e presente

Por Carolina Vaz

Com o anúncio da construção do Memorial Covid-19 Fiocruz – Ciência e Saúde em breve no campus Manguinhos da Fiocruz, desperta-se a discussão sobre a importância de iniciativas que relembrem grandes tragédias coletivas, como as vítimas da pandemia no Brasil. O tema foi analisado pela historiadora Cristina Meneguello, professora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Leia abaixo trecho da matéria da jornalista Karine Rodrigues, originalmente publicada no site da Casa de Oswaldo Cruz (COC-Fiocruz).

Historiadora analisa importância de patrimônios para rememoração coletiva

Um fio parte da ilha da Goreia, no Senegal, o maior centro de tráfico de escravos nas costas africanas, e atravessa os campos de concentração de Auschwitz-Birkenau, na Polônia. Cruza também o Memorial da Paz de Hiroshima, no Japão; o Marco Zero do 11 de setembro, nos Estados Unidos; e o Museu de Las Memorias, no Paraguai. Segue perpassando outros locais, em um longo trajeto, que, em breve, vai chegar ao Memorial da Covid-19 Fiocruz, a ser construído no campus Manguinhos, no Rio de Janeiro. Associados ao sofrimento e morte decorrentes da escravidão, das guerras, dos regimes de exceção, todos são patrimônios que materializam memórias difíceis.

Por mais dolorosas que elas sejam, há uma boa razão para que sigam vivas, avalia a historiadora Cristina Meneguello, professora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), referindo-se ao Memorial Covid-19 Fiocruz: “Para nós, brasileiros, que experienciamos o desamparo e a incerteza em meio a um governo negacionista, persiste uma sensação generalizada de todos sermos vítimas e sobreviventes. Nesse caso, relembrar e marcar o que aconteceu se transforma em uma necessidade, inclusive para a superação”.

Especialista em estudos sobre memória e patrimônio, Meneguello explica que os patrimônios difíceis, também chamados de sombrios, dissonantes ou da dor, são locais com a finalidade de rememoração coletiva e de direitos e de reparação de períodos de violência e trauma. É um “passado que não passa” e tem uma função de educação pública e de revitalização urbana. Foi após a Segunda Guerra Mundial que o ato de registrar as memórias difíceis no patrimônio público ganhou fôlego.

“A compreensão do que se dera com o Holocausto, ao mesmo tempo em que propostas revisionistas ou negacionistas também ganharam forma naqueles anos, obrigou a sociedade ocidental a pensar um novo lugar para o patrimônio, para além da celebração da arte, da arquitetura ou de feitos heroicos”, diz Meneguello, citando locais listados como patrimônio mundial pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), onde ocorreram batalhas, massacres e atentados, entre eles, a já referida Ilha de Goreia ou Gorée, no Senegal, em 1978.

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