Em recente publicação no site da revista História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Ramon Feliphe de Souza fala sobre seu artigo “O trem e a ‘senhorita espanhola’: a epidemia de gripe em Diamantina, 1918”, publicado no volume 30 do periódico.
Como a História ajuda em casos de epidemias?
Ramon Feliphe de Souza (COC/Fiocruz)
A epidemia de gripe de 1918 é repetidamente destacada na literatura científica como uma das mais letais na história. Embora já exista uma considerável bibliografia sobre o tema no país, pouco se examinou como esse contexto se desdobrou nas regiões interioranas, nos sertões brasileiros.
Era outubro de 1918 quando os jornais de Diamantina, no Norte de Minas Gerais, publicaram as primeiras notícias sobre a epidemia que avançava pelo mundo e já se manifestava em algumas cidades brasileiras. O clima ameno e o isolamento regional foram destacados no discurso oficial como os elementos que garantiriam o abrandamento da doença. No entanto, a epidemia avançou, desorganizou o cotidiano da cidade e fez vítimas. É o que investiga o artigo O trem e a “senhorita espanhola”: a epidemia de gripe em Diamantina, 1918, publicado na revista História, Ciências, Saúde – Manguinhos, v. 30, 2023.
O artigo é uma contribuição para a já relevante produção historiográfica brasileira em torno da epidemia de gripe de 1918. Analisa o evento em Diamantina, norte de Minas Gerais, discutindo como o recém-inaugurado ramal ferroviário da Estrada de Ferro Vitória a Minas (1914) contribuiu para a chegada da doença à cidade que, até então, era representada no discurso de suas elites como isolada e salubre. O estudo é resultado de reflexões de pesquisas realizadas durante meu mestrado no Programa de Pós Graduação em História das Ciências e da Saúde, defendido em 2018, com apoio e financiamento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
Num primeiro momento, discuto os debates e as ações para a construção de uma ferrovia em Diamantina, que nos discursos de suas elites foi representada como isolada e abandonada pelas autoridades políticas. Foi no início do século XX, em 1902, que foi aprovada a construção de um ramal ferroviário na cidade, a cargo da Estrada de Ferro Vitória a Minas. O processo não foi tranquilo, uma ferrovia só seria inaugurada em 1914 e com um traçado muito diferente do robusto projeto inicial. Depois de arrolar esse contexto, analiso como, quatro anos após a tão sonhada inauguração da ferrovia, foi exposta a natureza perigosa da reclamada integração regional. Os trilhos da Estrada de Ferro Vitória a Minas e da Central do Brasil – esta última no município vizinho de Curvelo, não trouxeram apenas os efeitos desejados. Impactos ambientais e problemas de saúde pública também foram verificados.
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Muito legal.