A fim de contribuir com o debate contemporâneo sobre pesquisas com povos indígenas no Brasil, no dia 22 de maio, foi realizado o Seminário “Pesquisas em Saúde com os Povos Indígenas: Novos Caminhos para a Produção Científica”, no Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães (Fiocruz-PE), em Recife. O evento é fruto do projeto “Práticas Tradicionais de Cura e Plantas Medicinais mais prevalentes entre os Indígenas das etnias Guarani e Kaiowá”, coordenado pelos pesquisadores Paulo Basta, da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/Fiocruz) e Islândia Carvalho, da Fiocruz-PE. Durante o seminário, foi lançada a cartilha “Acervo Pohã Ñana: pesquisa participativa sobre o conhecimento tradicional associado do povo Guarani e Kaoiwá”. A publicação é resultado de uma etapa do projeto desenvolvida em parceria com pesquisadores indígenas vinculados à Associação de Jovens Indígenas Guarani-Kaiowá em Ação (JIGA), e com os professores René Duarte e Rafael Ximenes, da Universidade Federal de Pernambuco. Também participaram do seminário em Recife pesquisadores indígenas da etnia Xukuru de Ororubá, que vivem no município de Pesqueira (PE).
A cartilha disponível em formato de e-book narra a trajetória de construção da parceria da Fiocruz com os indígenas das etnias Guarani e Kaiowá e relata em uma linguagem acessível as etapas que devem ser cumpridas para a realização de pesquisas com povos indígenas. Ao longo do texto, são tratados temas como o consentimento livre, prévio e informado, necessário às pesquisas em terras indígenas; a importância do registro das plantas medicinais no sistema do patrimônio genético e conhecimento tradicional associado (Sisgen); a submissão do protocolo de pesquisa ao Sistema CEP/CONEP; a solicitação de autorização para ingresso em Terras Indígenas à FUNAI; a aplicação de termos de consentimento livre e esclarecido antes de iniciar as entrevistas e coleta de dados; bem como a centralidade da devolutiva de resultados e a repartição de eventuais benefícios financeiros com as comunidades envolvidas.
Todo conteúdo da obra é apresentado por intermédio de um diálogo entre pesquisadores indígenas e não indígenas e a comunidade, ocorrido durante um evento em celebração à semana dos povos indígenas, tendo como protagonistas da história duas jovens pesquisadoras indígenas. O material foi totalmente ilustrado pela médica e antropóloga Adriana Strappazzon, e encontra-se em formato bilíngue: Português/Guarani.
O projeto coordenado por Paulo Basta e Islândia Carvalho completou 10 anos neste último mês de maio, e o longo do tempo de convívio dos pesquisadores com as comunidades indígenas em Amambaí, no Mato Grosso do Sul, resultou em outras produções, como o livro “Plantas medicinais: fortalecimento, território e memória Guarani e Kaiowá” (título em português) ou “Pohã Ñana: Nãnombarete, Tekoha, Guarani Ha Kaiowá Arandu Rehegua” (título em Guarani), lançado em 2020, além do documentário “Mboraihu – O espírito que nos une, de 2019”.
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