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Exposição virtual da EPSJV traz histórias dos primeiros técnicos da Fiocruz

Por Carolina Vaz

A Fiocruz completou, recentemente, 124 anos, e existe um material preparado exclusivamente para o acesso online sobre como era a vida na Fundação nas primeiras décadas. Trata-se da exposição virtual de longa duração “Manguinhos de muitas memórias: histórias dos trabalhadores técnicos da Fiocruz”, da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV). A exposição traz as histórias de 22 trabalhadores que atuaram nos primeiros 30 anos da Fiocruz, fundada em 1900. O objetivo é mostrar como era a vida institucional nesta época e os obstáculos dos trabalhadores auxiliares de cientistas para serem aceitos e respeitados na instituição.

A principal fonte da exposição é a tese de doutorado de Renata Reis, “A ‘grande família’ do Instituto Oswaldo Cruz: a contribuição dos trabalhadores auxiliares dos cientistas no início do século XX”, que utilizou documentação sob a guarda do Departamento de Arquivo e Documentação da Casa de Oswaldo Cruz (DAD/COC/Fiocruz). Reis é uma das idealizadoras da exposição. Imagens do acervo fotográfico da COC, muitas delas do fotógrafo J. Pinto, Livros de Registros pertencentes à Seção Cadastro de Funcionários Estatutários e depoimentos orais do Projeto Memórias de Manguinhos foram utilizados na composição da mostra.

Foto: Operários do Castelo Mourisco, em 1910, fotografia de J. Pinto / Acervo Casa de Oswaldo Cruz.

Os Espaços Expositivos do site são 8, começando por Panorama, que apresenta o contexto retratado na exposição. À época, início do século XX, o Instituto Oswaldo Cruz (hoje Fiocruz), também chamado de IOC, se consolidava como polo científico quando ainda prevaleciam relações sociais arcaicas. Naquele contexto, prevalecia a segregação entre cientistas (os “superiores”) e auxiliares de laboratório (os “subordinados”), muitos deles filhos de ex-escravizados e imigrantes pobres. Racismo, autoritarismo e preconceito de classe marcavam as relações entre chefes de laboratório, diretores de institutos e técnicos, que executavam as mais diversas funções. À época, mulheres não ocupavam cargos na instituição.

Tudo isso está descrito em detalhes na seção Biografias, que traz um resumo da vida de 22 técnicos. Eles atuavam como “mateiros” das expedições; na catalogação de livros, relatórios e espécimes de insetos; como trabalhadores das cocheiras, ajudante de tipógrafo, farmacêutico e vidreiro (para fabricação de ampolas), entre outras atividades. Os relatos revelam que os chefes de laboratório raramente se dedicavam a ensinar o ofício aos auxiliares; eles aprendiam na prática, dialogando entre si e até mesmo acessando livros que um deles, o bibliotecário João Simões, clandestinamente emprestava, uma vez que somente os cientistas podiam utilizar a biblioteca.

As seções Trabalho, Educação, Moradia e (Re)existências mostram justamente como os auxiliares driblavam todos os obstáculos para obter mais dignidade e avançar nos postos de trabalho no IOC. Os diretores eram tanto os que aplicavam as punições contra ações dos “subordinados” consideradas errôneas como, também, os que concediam aumentos de “vencimento” (o salário) e outros benefícios como moradia no terreno ou em um dos prédios da instituição. Ao mesmo tempo, a relação dos técnicos entre si era primordial tanto para aprender o ofício como para a vida pessoal. Vivendo em comunidades, formaram coletivos como a Congregação Espírita Oswaldo Cruz e o time de futebol Manguinhos F.C.

Acampamento de expedição da Fiocruz em Lassance, Minas Gerais. Foto de J. Pinto / Acervo Casa de Oswaldo Cruz.

Por fim, a seção Expedições conta a rotina das expedições científicas em outras cidades do país, seja para pesquisa (com coleta de animais, por exemplo), seja para combater epidemias. Em Legados, a exposição traz os depoimentos de pessoas que, nas últimas décadas, estudaram na Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio e tiveram a oportunidade de se desenvolver como cientistas desde a juventude.

A exposição virtual “Manguinhos de muitas memórias” pode ser vista aqui e também há, em diversos pontos do campus da Fundação em Manguinhos, no Rio de Janeiro, “pontos de memória” – placas com QR Codes que levam a histórias sobre acontecimentos deste passado recente.

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