Por Carolina Vaz
O parto, um fenômeno fisiológico e inerente a todos os mamíferos, é também um fenômeno cultural e marcado, historicamente, pelos percursos da medicina. No Brasil, a obstetrícia teve início com a criação das escolas de medicina, em 1852, mas foi mais adiante, no final do século XIX, que surgiram as primeiras maternidades no Rio de Janeiro, São Paulo e Salvador. Desde então, foi marcada por técnicas, procedimentos, medicamentos e comportamentos muitas vezes eficientes, contribuindo para a queda da maternidade materna e neonatal, mas também negativos em outros aspectos.
O parto, mais especificamente o nascimento, é um dos principais temas de estudo do Observatório História e Saúde, com o projeto “A medicalização dos nascimentos no Brasil“ em curso desde 2018. Participam do projetos os pesquisadores Luiz Antonio Teixeira (OHS/COC-Fiocruz), Andreza Rodrigues Nakano (EEAN/UFRJ) e Lucia Regina Nicida (CETABS), junto a demais pesquisadores de outras instituições.
Uma viagem pela história da obstetrícia
Nosso site possibilita uma verdadeira retrospectiva pela história do parto e obstetrícia no Brasil, a começar pela fonte de informação “História da obstetrícia no Brasil”, composta por publicações científicas especializadas nas áreas de ginecologia e obstetrícia no século XX, sendo a mais antiga datada de 1916. São 9 periódicos e 10 livros que fornecem um panorama da obstetrícia no século passado.
Também possuímos, em nossa Biblioteca, artigos anteriores à formalização do projeto “A medicalização dos nascimentos”. Em 2015, Claudia Bonan, Luiz Antonio Teixeira e Andreza Rodrigues Nakano publicaram no volume 25 da revista “Physis: Revista de Saúde Coletiva”, o artigo “A normalização da cesárea como modo de nascer: cultura material do parto em maternidades privadas no Sudeste do Brasil”. No ano seguinte, o trio publicou, no volume 23 da revista História, Ciências, Saúde-Manguinhos (Online), o artigo “Cesárea, aperfeiçoando a técnica e normatizando a prática: uma análise do livro Obstetrícia, de Jorge de Rezende”.
A criação do projeto, em 2018, gerou uma série de ações voltadas ao público geral, como o Seminário Internacional Medicalização do Parto, realizado em outubro de 2018 no Museu da Vida na Fiocruz. O evento reuniu cerca de 22 pessoas nas mesas, sobretudo mulheres. Dentre pesquisadoras e representantes de movimentos sociais, de diversos estados do Brasil e até de universidades no exterior, passou por temas como locais do parto, intervenções e saberes tradicionais. Toda as mesas do seminário foram gravadas e estão disponíveis na nossa seção de vídeos .
Outra ação voltada ao público foi a exposição Parto e Nascimento no Brasil, que conta em imagens como este fenômeno se deu no Brasil antes e depois dos hospitais e maternidades.
No período de isolamento da pandemia, houve dois momentos importantes do projeto, sendo o primeiro o lançamento do livro “Medicalização do parto: saberes e práticas”, da editora Hucitec, tendo como organizadores Luiz Antonio Teixeira, Andreza Pereira Rodrigues, Marina Fisher Nucci e Fernanda Loureiro Silva.
E o tema não ficou de fora da nossa série de debates, temporariamente online, o “Conversas Contemporâneas”. Tendo como convidada Andreza Rodrigues Nakano, e com participação de Luiz Antonio Teixeira e Cristiane d’Ávila, a live “O Parto no Brasil” foi realizada em dezembro de 2021, e pode ser vista em nosso canal no Youtube.
Também temos, aqui no Blog, um artigo introdutório das complexidades que envolvem o tema do parto no Brasil, pela pesquisadora Lucia Regina de Azevedo Nicida. Em “Parto em perspectivas: reflexão inicial, por Lucia Nicida”, a pesquisadora aborda os movimentos de avanço e retrocessos na história do parto no país. Ainda convida a um debate aberto sobre sua tese de doutorado “A medicalização do parto no Brasil a partir do estudo de manuais de obstetrícia”.
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