Publicado originalmente na editoria Outra Saúde, do portal Outras Palavras, artigo traz os problemas da coexistência de diferentes perspectivas sobre a saúde do trabalhador, seja como um fator no processo produtivo ou olhando para a saúde integral. A autoria é de Diego Oliveira de Souza, enfermeiro e pesquisador do mundo do trabalho com ênfase na saúde dos trabalhadores e trabalhadoras. É membro do Núcleo do Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (CEBES) no agreste de Alagoas e do núcleo temático Direito, Saúde e Trabalho.
No texto, o autor esmiúça as menções ao trabalho nas legislações de saúde, a exemplo da Política Nacional de Saúde e Segurança do Trabalhador (PNSTT), explica as incoerências de um sistema de saúde que ainda não enfrenta a saúde dos trabalhadores como uma questão ampla, e apresenta 10 contribuições para se superar os obstáculos e avançar no campo.
Leia um trecho abaixo:
Dez pontos para reforçar a Saúde do Trabalhador
Analisar a saúde do trabalhador e da trabalhadora (STT) é olhar para um objeto em paralaxe. A depender do lugar do qual o sujeito observa, o objeto assume posições e imagens distintas. Nessa analogia, como o objeto é de caráter social, o observador (sujeito coletivo) é atravessado por interesses de classe, saiba ele ou não. Se o ponto de partida (de vista) é uma perspectiva afim aos interesses de empresários industriais ou do agronegócio, de grupos financeiros e outros segmentos da burguesia, interessa olhar para esse objeto como um fator no processo produtivo, a ser manejado pela própria burguesia ou por agentes a seu serviço, para garantir a produtividade.
Por esse olhar, constata-se a predominância de uma ideia de saúde restrita ao local de trabalho, analisada a partir da mensuração de riscos ocupacionais, associados a tempos de exposição para determinar limites de tolerância, com pouca ou nenhuma participação dos(as) trabalhadores(as). Além disso, implementam-se medidas protetivas que incidem como forma de controle dos ambientes e dos corpos dos(as) trabalhadores(as), sem a preocupação de alteração do processo em si. No Brasil, é emblemático o caso dos Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho (SESMT’s) que, a serviço das empresas que os contratam, atuam de forma a equalizar a questão da saúde em prol da produtividade da empresa. Muitas vezes, ações como a realização de exames laboratoriais de caráter admissional, periódico ou demissional se constituem em processos humilhantes, coercitivos e de controle sobre os corpos dos(as) trabalhadores(as), reificados(as).
Essa perspectiva não pode ser chamada de STT, entendida como campo científico e político-institucional, pois esse campo, historicamente, é forjado em consonância às experiências operárias, em aliança com técnicos de saúde que assumem uma postura crítica ante os modelos hegemônicos (medicina do trabalho e da saúde ocupacional). Isto é, consiste em uma outra forma de olhar (e intervir) sobre a relação trabalho-saúde.
Leia completo aqui.
O artigo é uma parceria do portal Outras Palavras com o Cebes. Saiba mais sobre o autor:
Diego de Oliveira Souza, professor da Ufal na pós-graduação em Serviço Social e na Graduação em Enfermagem, campus Arapiraca. Pesquisa sobre o mundo do trabalho, com ênfase para a saúde dos trabalhadores e das trabalhadoras. Enfermeiro, com mestrado (Ufal) e doutorado (Uerj) em Serviço Social. Pós-doutorado em Estudios de la Ciudad pela UACM. Membro do Núcleo do CEBES no agreste de Alagoas e do núcleo temático Direito, Saúde e Trabalho. Membro do GT de Saúde do Trabalhador da Abrasco. Membro do núcleo Saúde e Trabalho do Instituto Walter Leser. Membro do coletivo ofensiva socialista. Membro do Instituto Trabalho Associado.
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