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Redução de recursos públicos em pesquisas sobre câncer

02/02/2022

Os recursos públicos investidos em pesquisa sobre o câncer praticamente dobraram entre 2007 e 2012, saltando de 37,6 milhões para 62,1 milhões de dólares. Entre 2007 e 2016, o investimento total foi de 489 milhões, aplicados a 7.622 projetos que mobilizaram 3.068 pesquisadores. Em 2016, no entanto, os recursos já estavam bem mais curtos, chegando a apenas 38,4 milhões, e os autores agora levantam dados da situação a partir de 2016. Essa aparente involução aparece em levantamento recém-publicado no Journal of Cancer Policy.

Realizado por pesquisadores da Fiocruz e do Instituto Nacional de Câncer, no Rio de Janeiro, seus dados revelam um cenário em princípio preocupante de subfinanciamento, como indicou à revista Pesquisa Fapesp a bioquímica Vilma Regina Martins, ex-superintendente de pesquisa do A. C. Camargo Cancer Center, em São Paulo. O levantamento utilizou dados do Ministério da Saúde, de agências federais e estaduais e da plataforma Lattes.

Pode-se imaginar que a situação tenha se agravado depois de 2016, visto que houve diminuição progressiva dos recursos, até onde se pode ver. A enfermeira oncológica Cecília Ferreira da Silva, do Inca, uma das autoras do estudo, disse à excelente reportagem que não descarta essa possibilidade. Uma pista são os registros do Fundo de Saúde, que visa à capacitação tecnológica do sistema de Saúde e a ampliar o acesso da população brasileira a ele. Em seis anos, o orçamento do fundo sofreu um tombo colossal de 993% – de R$ 36,9 milhões em 2015 para R$ 2,42 milhões em 2021.

Quanto à doença, fez um movimento oposto: avançou bastante. A incidência de câncer continuou a subir, como esperado, por conta do aumento da expectativa de vida e do envelhecimento da população. Foram 600 mil casos da doença por ano em 2018 e 2019, aumento de 22,6% em relação ao biênio 2010-2011, segundo o Inca. A estimativa para o triênio 2020-2022 é de 625 mil novos casos por ano, ou mais porque a pandemia prejudicou o atendimento e tratamento. Não bastasse isso, a carência de recursos, na avaliação dos pesquisadores, deve intensificar ainda mais a dependência brasileira do mercado externo, sobretudo em medicamentos.

O Brasil quase não financia a investigação oncológica, assinala a bioquímica Veronica Aran, do Instituto Estadual do Cérebro Paulo Niemeyer. Ela foi coautora de um estudo, também publicado na Journal of Cancer Policy, de 2019, por pesquisadores do Inca. Vê-se aí que entre 1998 e 2013 a oncologia recebeu apenas R$ 12,5 milhões dos R$ 989 milhões disponibilizados pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). Dos R$ 3 bilhões investidos em modernização de laboratórios para pesquisa em saúde, apenas 0,46% foi para a oncologia.

Redução de recursos públicos em pesquisas sobre câncer

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